Introdução
A madeira de pau-brasil (Caesalpinia
echinata Lam.) é extensivamente procurada no exterior, sendo considerada
internacionalmente a única que reúne características ideais de ressonância,
densidade, durabilidade, beleza, além da extensão da curvatura, do
peso, da espessura e de preciosas qualidades tonais, para a confecção
dos melhores arcos de instrumentos de corda (Pierce 2002; Bueno 2002).
Segundo Bueno (2002), ela vem sendo extraída ilegalmente e exportada sob
a denominação de “pernambuco wood”.
A denominação vulgar “pau-brasil”,
segundo Mainieri (1960), é utilizada em nosso país para designar quatro gêneros
diferentes de plantas produtoras de madeira, reunindo erroneamente sob o mesmo
nome, madeiras que apresentam coloração avermelhada, a saber Brosimum
paraense Huber (Moraceae), Colubrina rufa Reiss e Rhamnidium
glabrum Reiss (Rhamnaceae) e três espécies de Sickingia (Willd.) (Rubiaceae).
No caso do pau-brasil verdadeiro (C.
echinata), o cerne é alaranjado, bastante evidente na árvore recém cortada,
decorrente da presença de brasilina (C16H14O5), que oxida com a exposição ao
ar, assumindo coloração vermelho-coral (Mainieri et al. 1983).
De acordo com Lewis (1998), C.
echinata não é classificada em táxons infra-específicos, embora muitas
populações mostrem diferenças marcantes no tamanho e na forma dos folíolos, na
cor da madeira e no hábito. Três diferentes grupos de C. echinata estão sendo
estudados por especialistas brasileiros e no futuro talvez a espécie possa ser
separada em subespécies ou variedades. O grupo mais comum apresenta comparativamente
os menores folíolos e cerne de coloração alaranjada, sendo encontrado em muitas
localidades ao longo da costa brasileira. O segundo grupo difere pouco do
primeiro, apresentando, contudo, folíolos um pouco maiores e cerne com
coloração laranja avermelhado. Deste morfotipo são conhecidos apenas representantes
cultivados nos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. O terceiro grupo
apresenta folíolos muito grandes e cerne vermelho escuro, sendo encontrados
naturalmente, até o momento, apenas em uma localidade na Bahia.
Apesar do consenso entre produtores de
que o pau-brasil é a melhor madeira para a fabricação de arco, Matsunaga et
al. (1996) informam que, até o momento, não existem publicações científicas
que esclareçam por que o pau-brasil é tão apropriado para tal finalidade. A
seleção da espécie está baseada na experiência tanto de arqueteiros como
músicos, sendo a mesma utilizada há mais de 200 anos.
De acordo com Retford (1964), a
manufatura de arcos como arte especializada teve sua origem no século XVIII, na
França, na oficina de Tourte “O Velho”.
Aparentemente pouco se sabe dos seus
predecessores; há poucos registros dos primórdios da história do arco e sua
origem precisa é desconhecida; os registros mais antigos vêm da cultura árabe e
bizantina e datam do século X. Com relação às madeiras empregadas, Pierce (2002)
informa que antes da metade do século XVIII eram usadas várias espécies
tropicais, incluindo o paubrasil.
Segundo
Richter (1988), o pau-brasil já era conhecido no mercado europeu por volta de
1550, quando os primeiros violinos, com a forma dos utilizados atualmente,
foram construidos por G. Bartoletti de Saulo, em Bréscia na Itália. Entretanto,
foram os irmãos Tourte, em Paris, que consagraram o pau-brasil como material
ideal para a confecção de arcos.
Segundo
Matsunaga et al. (1996), as propriedades vibracionais da madeira são
fundamentais para qualifica-la como apropriada para a manufatura de instrumentos
musicais. Embora os arcos de instrumentos de corda não produzam o som, as
propriedades vibracionais da madeira também são muito importantes na
determinação da sua qualidade.
Embora
a madeira do pau-brasil reúna as propriedades ideais para a confecção de arcos,
os produtos resultantes da manufatura de diferentes amostras apresentam
qualidades distintas. Com o pau-brasil podem ser confeccionados arcos de alto valor
e grande qualidade, até arcos de baixo custo utilizados por amadores e
estudantes (Lombardi, www.lombardiarcos.com). As causas dessa variação estão
sendo investigadas e parecem ser decorrentes de um conjunto de fatores que
envolve a organização estrutural da madeira e aspectos relacionados às suas propriedades
químicas e físicas.
A
investigação qualitativa e quantitativa de diferentes amostras de pau-brasil
poderá ajudar a explicar as causas das diferenças na qualidade dos arcos. Além
disso, como no mercado nacional estão sendo introduzidos e, bem aceitos, arcos
produzidos com outras madeiras, o estudo da estrutura das mesmas poderá ajudar
no estabelecimento de características anatômicas envolvidas na melhor qualidade
do arco.
O
presente estudo, objetiva determinar as variações estruturais existentes entre
amostras de pau-brasil que possam interferir na qualidade do arco e indicar
características desejáveis em outras espécies.
Resultados
Os
arcos de violino confeccionados com pau-brasil (Caesalpinia echinata )
(Fig. 1), tem coloração alaranjada do cerne, também evidenciada na Fig. 3. As outras
espécies que estão sendo utilizadas na produção de arcos, duas delas indicadas
na Fig. 2, são observadas quanto à sua cor nas Fig. 4-9. Observa-se que as madeiras
de pau-rainha (Brosimum paraense, B. rubescens) e
pau-cobra (Brosimum guianense), apresentam, respectivamente, uma
coloração avermelhada (Fig. 2a, 8) e avermelhada escura com manchas enegrecidas
(Fig. 2b, 7), desenho este que lhe sugere o nome comercial. As outras madeiras
apresentam uma coloração enegrecida, recebendo a denominação vulgar de coração
de negro, correspondendo, entretanto, a diferentes espécies: pau-ferro (Caesalpinia
férrea Mart. - Fig. 4), gombeira (Swartzia aptera D.C. (Fig. 5) e S.
laxiflora Bongard ex Benth.) e pau-santo (Zollernia paraensis Huber
- Fig. 6). Por último, a maçaranduba (Manilkara elata) apresenta cerne
de
coloração
castanha-escura (Fig. 2c, 9).
Figuras 1-2. Arcos de violino. 1. Caesalpinia echinata Lam.
(pau-brasil), aspecto geral. 2. Detalhe de arcos de violino de outras madeiras: a. Brosimum paraense Huber (pau-rainha). b. Brosimum
guianense (Aubl.) Huber. (pau-cobra). c. Manilkara elata (Fr. All.)
Monac. (maçaranduba). Figuras 3-9. Aspecto longitudinal macroscópico das
madeiras. 3. Caesalpinia echinata (pau-brasil). 4. Caesalpinia ferrea
Mart. (pau-ferro). 5. Swartzia aptera D.C. (gombeira). 6. Zollernia
paraensis Huber (pau-santo). 7. Brosimum guianense (paucobra). 8. Brosimum
paraense (pau-rainha). 9. Manilkara elata (maçaranduba).
Discussão
Pau-brasil
(Caesalpinia echinata) – De maneira geral, as características anatômicas
observadas estão de acordo com o mencionado na literatura (Mainieri 1960; Mainieri
et al. 1983; Détienne & Jacquet 1983; 1988). Entretanto, uma análise
comparativa qualitativa e quantitativa indica que existem variações de algumas características
entre os diferentes indivíduos, que possivelmente
estão relacionadas à fatores ambientais.
Uma destas características refere-se
ao diâmetro dos vasos. No estudo do lenho, deve-se lembrar que a principal
função deste tecido é a condução de água através, essencialmente, dos vasos.
Segundo Zimmermann (1982), a condução eficiente e segura da água só é possível
devido à estrutura tridimensional da madeira. O autor menciona que vasos de
menor diâmetro e curtos são mais seguros na condução da água, enquanto vasos
mais largos e longos são mais eficientes.
Vários
estudos têm demonstrado que vasos de menor diâmetro, embora menos eficientes na
condução de água, são mais seguros em ambientes secos, visto que permitem o
desenvolvimento de maior pressão negativa antes do aparecimento de embolias,
que tornam os vasos não funcionais (Zimmermann 1983; Baas et al. 1983;
Wilkins & Papassotiriou 1989; Lindorf 1994). A relação direta da diminuição
do diâmetro dos vasos em espécies ou gêneros que crescem em ambientes com
condições xéricas, também está associada à presença destas espécies em maiores latitudes,
como o observado por Graaff & Baas (1974), Baas et al. (1983),
Dickison & Phend (1985), Wilkins & Papassotiriou (1989). Tal relação
quanto ao diâmetro dos vasos pode ser observada nas amostras de C. echinata
de procedência conhecida.
A madeira coletada em Porto Seguro (BA), cujo
clima é quente e super-úmido, sem um período de seca anual, apresenta vasos de
maior diâmetro em relação às amostras coletadas em Mogi-Guaçu (SP). O clima,
nesta região, caracteriza-se por apresentar um período anual seco e frio,
localizando-se em maior latitude em relação à Porto Seguro (BA).
Os vasos
maiores observados no espécime de Porto Seguro (BA) promovem, potencialmente, maior
eficiência na condução da água, em uma região onde a disponibilidade de água no
solo e a evapotranspiração são maiores. Além dos vasos, observa-se também
variação no padrão de distribuição do parênquima axial, que é do tipo
paratraqueal aliforme em todos os espécimes, apresentando maior ou menor grau
de confluência, chegando a formar faixas. A abundância de parênquima, representada
pelo parênquima em faixas largas, chama a atenção nas amostras procedentes da
árvore da Bahia e nas de arcos de violino SPw 2036 e 2037.
Segundo
Wheeler & Baas (1991), o parênquima paratraqueal é mais comum nas regiões
tropicais do que nas temperadas. Tal tendência foi comprovada por Alves &
Angyalossy (2002), que analisaram a anatomia da madeira da flora arbórea de
várias regiões brasileiras, demonstrando que o parênquima paratraqueal é
característico em latitudes menores.
Por meio de análise quantitativa, as
autoras demonstram que o parênquima também é mais abundante em latitudes
menores e, consequentemente, em ambientes mais quentes, o que é confirmado
neste trabalho com a observação de parênquima mais abundante na amostra
da Bahia, quando comparada com as amostras procedentes dos indivíduos de São
Paulo. A relação direta da abundância do parênquima com latitudes menores
também foi observada para espécies de outras floras por Baas e colaboradores
(Baas 1973; Baas & Zhang 1986; Baas & Schweingruber 1987; Wheeler &
Baas 1991).
Considerando-se
que o diâmetro dos vasos e a abundância de parênquima axial estão relacionados
à latitude e a fatores climáticos, pode-se inferir que as amostras provenientes
dos arcos de violino SPw 2036 e 2037 têm comportamento semelhante à amostra proveniente
de Porto Seguro (BA), indicando que estas madeiras podem ter sido amostradas em
indivíduos que crescem em região de menor latitude, com clima constantemente
quente e úmido. Por outro lado, a amostra do arco SPw 2035 apresenta vasos de
menor diâmetro e parênquima axial mais escasso, confluente sem formar faixas,
características estas relacionadas a ambientes mais secos e de maior latitude,
como o observado na amostra proveniente de São Paulo.
Apesar dos dados indicarem,
para o pau-brasil (Caesalpinia echinata), tendência à correlação entre a
latitude e os fatores climáticos com as características do vaso e do parênquima
axial, é imprescindível, em trabalhos futuros, que haja uma abordagem anatômica
com maior número de indivíduos, abrangendo os remanescentes das áreas de
ocorrência natural da espécie, visando verificar se esta tendência é mantida. Outra
diferença encontrada nas amostras analisadas de pau-brasil refere-se à
estratificação dos raios. Nas madeiras estratificadas, os elementos celulares
do lenho podem estar organizados formando faixas horizontais regulares ou
estratos. Segundo Burger & Richter (1991), o efeito visual da
estratificação (listrado de estratificação) pode ser normalmente evidenciado
macroscopicamente.
Embora a presença de
estratificação seja característica importante usada na identificação de
madeiras, observou-se, entre as amostras de pau-brasil, variações bastante
acentuadas, desde presente a ausente. Tais variações são apontadas pontualmente
na literatura 832 Angyalossy, Amano & Alves: Madeiras utilizadas na fabricação
de arcos de instrumentos de corda ... (Mainieri 1960; Mainieri et al.
1983; Détienne & Jacquet 1983; Richter 1988), sem que haja indicação da
causa desta variação. Novamente, somente estudo amplo, levando-se em
consideração a latitude, os fatores climáticos e os edáficos, poderá trazer uma
possível resposta para tal variação. Observou-se
que o pau-brasil pode variar quanto à grã, de reta (ou linheira) a irregular.
De acordo com Burger & Richter (1991), o termo grã refere-se à orientação
geral dos elementos verticais constituintes do lenho em relação ao eixo da
árvore ou peça de madeira.
Em decorrência do processo de crescimento, sob as
mais diversas influências, há grande variação natural no arranjo e direção dos
tecidos axiais, originando vários tipos de grã. A grã reta ou linheira é
considerada o padrão normal, onde os tecidos axiais são orientados paralelamente
ao eixo principal do tronco ou peça de madeira. Já as grãs irregulares incluem
madeiras cujos elementos axiais apresentam variações de inclinação quanto ao
eixo longitudinal do tronco ou peças de madeira. Para Richter (1988), uma das
características necessárias para se obter um arco de violino de ótima qualidade
é a presença de uma grã linheira na madeira empregada para tal. Jane (1962)
afirma que irregularidades na grã afetam significativamente a velocidade de
propagação das ondas sonoras na madeira, influenciando dessa forma suas
propriedades de ressonância.
Conclui-se, neste trabalho,
que as diferenças observadas no diâmetro dos vasos, na distribuição e quantidade
de parênquima axial, na orientação dos elementos axiais e dos raios, são
parâmetros que devem ser considerados quando se busca responder por que a
qualidade madeira de pau brasil varia quando se utilizam diferentes amostras.
Madeiras substitutas do
pau-brasil – Poucas madeiras podem ser consideradas como alternativas na confecção
de arcos de instrumentos de corda. Segundo Richter (1988), a madeira para tal
finalidade deve ser analisada sob cinco parâmetros: a) trabalhabilidade, com superfície
lisa; b) orientação da madeira no caule (radial ou tangencial); c) textura fina
dos elementos celulares axiais e grã linheira (reta); d) tamanho e posição dos
defeitos da madeira; e) teste de dureza da madeira (macia ou dura), geralmente
realizado pelo
arqueteiro de forma manual.
Levando-se
em consideração estes cinco parâmetros segundo Richter (1988), as madeiras a serem
classificadas como de alta qualidade (“ouro”) devem ser duras, cortadas no
sentido radial do caule, sem defeitos e com grã linheira; as madeiras com qualidade
inferior (“prata” e “bronze”) têm exigências menores quanto a estes parâmetros.
Entretanto
somente estes parâmetros não são suficientes para eleger uma madeira como
substituta do pau-brasil. Deve-se considerar a densidade e as características
anatômicas, que revelam, neste trabalho, a existência de diferenças e
semelhanças entre a madeira do pau-brasil e a das oito espécies alternativas
analisadas.
Todas
as madeiras aqui analisadas apresentam densidade próxima ou maior que 1,0 g/cm3
(Détienne & Jacquet 1983; Mainieri et al. 1983; Mainieri & Chimelo
1989; Richter 1988). A densidade da madeira está diretamente relacionada à
quantidade de celulose que a constitui, sendo que o valor máximo que uma madeira
pode ter corresponde à densidade da celulose, isto é, 1,5 g/cm3. Assim,
madeiras como o pau-brasil (Caesalpinia echinata ), pau santo (Zollernia
paraensis), pau cobra (Brosimum guianense) e paurainha (Brosimum
paraense e B. rubescens), que apresentam fibras muito espessas,
chegam a alcançar valores de até 1,30 g/cm3. Fujiwara et al. (1991) e Fujiwara
(1992), empregando análises de regressão múltipla e comparando 50 espécies de
madeiras japonesas, confirmaram que a espessura da parede das fibras e a
percentagem de material presente naparede têm forte influência na densidade da
madeira.
Os
mesmos autores contataram que a densidade é fortemente relacionada ao volume
dos raios e ao material das suas paredes. Por sua vez, Basson (1987) e Rao et
al. (1997) relacionaram altas densidades com baixa freqüência de vasos.
Segundo
Panshin & De Zeeuw (1980), a densidade é uma propriedade física muito
importante da madeira, uma vez que é um parâmetro que pode afetar outras propriedades.
Altas densidades estão relacionadas também à redução no tamanho das células que
compõem a madeira. Esta redução se expressa na textura fina da madeira, que
corresponde a um dos cinco parâmetros desejados na madeira a ser usada para a confecção
do arco.
Estudos
realizados por E.S. Alves (dados não publicados) mostraram que os cristais de
oxalato de cálcio são comuns entre as espécies brasileiras, confirmando a
observação deste por Bass (1973) e Zhang et al. (1992), entretanto, os
diferentes tipos são considerados caracteres diagnósticos na identificação de
espécies lenhosas (IAWA Committee 1989). A presença de cristais prismáticos no
parênquima axial e radial foi observada em todas as espécies avaliadas.
As
características comuns entre o pau brasil e as outras oito espécies
alternativas são: os vasos de pequeno diâmetro, as fibras de paredes espessas a
muito espessas, os raios compactados com poucas células de largura, a deposição
de óleo-resina no lume das células, principalmente nos vasos e a presença de
cristais.
Não
são conhecidos os componentes químicos específicos dos extrativos da madeira,
sendo comumentemente classificados como óleo-resina na literatura especializada
em anatomia da madeira.
Entretanto,
para o pau-brasil, sabe-se que nos extrativos, entre outros, são encontradas a
brasilina e a protosapanina B, esta última correspondendo a 40% da quantidade
total dos extrativos (Matsunaga et al. 1999; 2000a; 2000b).
Importantes
experimentos realizados por Matsunaga e colaboradores (Matsunaga et al.
1996; 1999; 2000a; 2000b; Matsunaga & Minato 1998; Minato et al.
1997) revelam que os extrativos (brasilina e protosapanina B), presentes no
pau-brasil, afetam as propriedades vibracionais da madeira. Segundo os autores,
a madeira de pau-brasil, quando comparada com outras, apresenta o menor valor
de decaimento vibracional; um arco com baixo decaimento vibracional absorve
menos energia vibracional quando a corda do instrumento é friccionada. Além
disso, baixo decaimento vibracional permite ao músico “sentir” a fricção da
crina com a corda, facilitando o manuseio do arco.
Matsunaga et al.
(1999; 2000a; 2000b) demonstram que os baixos valores de decaimento vibracional
podem ser decorrentes da grande quantidade de brasilina e protosapanina B, uma
vez que ao extraí-las ocorreu aumento no decaimento vibracional da madeira de Caesalpinia
echinata. Para confirmar a importância dos extrativos nas propriedades
vibracionais do pau-brasil, os autores impregnaram a madeira de Picea
sitchensis Carr.
Com tais extrativos e constataram redução no decaimento vibracional
da mesma. Os autores concluíram que tal fato se deva à formação de ligações
entre os componentes da madeira e os extrativos. A brasilina e a protosapanina
B apresentam muitos grupos hidroxila que podem formar pontes de hidrogênio com
os grupos hidroxila dos componentes da madeira.
Apenas
com base na estrutura anatômica não é possível determinar se as madeiras
analisadas, incluindo-se entre elas o pau-brasil, fornecerão arcos de maior ou
menor qualidade, devendo-se associar as observações dos parâmetros apontados
por Richter (1988), além de algumas propriedades físicas, mecânicas e acústicas
da madeira. Entretanto, a estrutura anatômica tridimensional da madeira é parte
fundamental na compreensão da qualidade final do arco e deve ser investigada
com profundidade. Na prática, constatou-se que arcos de boa qualidade
apresentam grã linheira e textura fina.
Esta
última característica decorre da menor proporção de vasos cujo diâmetro é
reduzido, raios homogêneos e fibras com paredes espessas e/ou muito espessas.
Assim,
a relação entre a estrutura e a qualidade do arco está diretamente relacionada
com as dimensões, a distribuição e a proporção das células do lenho.
Além
do entendimento da variação das características anatômicas, apontadas neste
trabalho, outros tópicos devem ser analisados, tais como os tipos e a
quantidade de extrativos, o teor de lignina e características intrínsecas da
parede das células.
E,
mais importante ainda, deve-se considerar a sensibilidade, a experiência e a
“arte” do arqueteiro, cuja capacidade em aproveitar ao máximo o potencial das
madeiras tem papel importante na transformação da madeira bruta em arcos de
grande beleza e qualidade.
Referências bibliográficas
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Baas, P. & Schweingruber, F.H. 1987. Ecological trend
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Autores: Veronica Angyalossy, Erika Amano e Edenise Segala Alves
Texto retirado de: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-33062005000400018&lang=pt
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