12 de set. de 2012

A França, os bons arcos de violinos e o escasso pau-brasil



Desde 2007 há uma briga em curso entre a França e o pau-brasil. Naquele ano ocorreu a convenção sobre espécies ameaçadas de extinção, em Haia. Foi quando se decidiu proteger os elefantes de Botsuana, alguns corais e a caesalpinia echininata, nome científico do pau-brasil . 

No caso dos elefantes, a França não disse nada. Mas ficou bastante aborrecida por não poder mais comprar, sem autorização especial, a caesalpinia echninata (pau brasil).


Esse tipo de restrição ameaça um segmento da indústria francesa pequeno, porém, arrojado e glorioso: o da fabricação de arcos de violino. Todo mundo sabe que o pau-brasil, pelo vermelho violácea do seu cerne e o dourado do alburno, fez a fortuna dos fabricantes europeus de tinta.


Mas o reinado do pau-brasil acabou por volta de 1850 com o esgotamento da mata atlântica e também porque novos pigmentos foram criados pela química.

O que muitos ignoram, no entanto, é que no século 18 o pau-brasil encontrou uma nova vocação: de todas as madeiras conhecidas, é com ele que são produzidos os melhores arcos de violino.



 No mundo, algumas centenas de empresas fabricam esses arcos de altíssima qualidade. Elas estão nos Estados Unidos, na Alemanha, na China e no Brasil. E também na França.
Assim, a diretiva adotada por unanimidade para proteger o pau-brasil consternou alguns pequenos industriais franceses do setor. Um desses fabricantes, Edwin Clément, falou da dificuldade ao jornal Le Monde: "Por que Haia protegeu o pau-brasil (chamado às vezes na França de bois de Pernambuc, ou madeira de Pernambuco)? 




Em Haia, quatro espécies de madeira estavam ameaçadas: duas espécies de palissandra, o cedro vermelho e o pau-brasil. Ora, os países da América Latina vendem a palissandra e o cedro vermelho aos milhares de metros cúbicos. 

Para evitar que essas espécies não fossem afetadas, e como prova de boa-fé, o Brasil pediu a proteção do pau-brasil.
E, assim, descobrimos esse prestigiado e desconhecido segmento industrial francês. 

Foi em torno de 1860 que os irmãos Tourte descobriram, não se sabe como, as virtudes do pau-brasil. Uma madeira sem rival, com uma densidade excepcional (quase duas vezes a do carvalho), uma elasticidade rara, resistente na curvatura e uma capacidade vibratória inigualável.


Resultado: com esses arcos extraordinários, a música sofreu mudanças radicais. A música clássica, até então confinada nos salões, invadiu as grandes salas de concerto. 
Paganini jamais teria tido o sucesso que teve sem o "bois de Pernambuc".


Se a Itália é imbatível na fabricação de violinos por causa da família Stradivarius, a França triunfou com o arco, graças aos irmãos Tourte. 

E essa excelência tem um preço: um arco fabricado pelos irmãos Tourte vale 120 mil. Um arco novo, fabricado hoje, custa entre 2.500 e 4 mil com mais de 40 a 60 horas de trabalho.

Os fabricantes franceses, conscientes de que o pau-brasil é um tesouro, apoiaram uma decisão, em 2000, segundo a qual 80% dos fabricantes de arcos do planeta direcionariam 2% da sua receita a um programa em favor do pau-brasil. Quinhentas mil árvores foram plantadas em cinco anos.


 Mas o seu crescimento é lento. É preciso esperar algumas dezenas de anos para fabricar arcos capazes de tirar, do fundo mágico dos Stradivarius, sons de "morrer de prazer".



Nesse intervalo, não poderia se usar uma madeira substituta? "É o que procuramos há 250 anos, mas até hoje não encontramos", disse Clément.

 fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-franca-os-bons-violinos-e-o-escasso-pau-brasil,29861,0.htm

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