27 de dez. de 2011

pequena história da música (parte 2)

Impressionismo



Esse movimento surge na França, em meados do século XIX, como um novo
modo de percepção do mundo, que se reflete principalmente na música e
nas artes plásticas. A arte do extremo oriente fonte de inspiração dos
impressionistas se revela na valorização da sonoridade dos instrumentos
musicais e dos jogos harmônicos. O principal representante desse
movimento é Claude Debussy (1862-1918), que se afasta das temáticas
épicas do romantismo. Retoma, em seu quarteto de cordas, elementos
modais da música européia do passado, escalas de origem oriental e uma
sucessão de acordes que recombinam as notas como modo de modificar o
colorido harmônico. Exerce influência sobre Maurice Ravel (1875-1937),
Erik Satie (1866-1925) e diversos compositores de movimentos nacionais,
como o brasileiro Heitor Villa-Lobos (1887-1959), o húngaro Bela Bartok
(1881-1945) e o russo Ígor Stravinski (1882-1973).
Claude-Achille Debussy (1862-1918) nasce em Saint Germain-en-Laye, perto
de Paris. Aos 11 anos ingressa no conservatório de Paris, onde
surpreende seus professores com harmonias inusitadas. Recebe, aos 22
anos, o cobiçado Prêmio de Roma (tal como Berlioz). Entre 1890 e 1900,
compõe a ópera Pelléas e Mélisande, tornando-se reconhecido por toda a
Europa, a Suíte bergamasque para piano, o Quarteto de cordas de 1893, La
mer (O mar) e Imagens para orquestra e os dois volumes de Prelúdios para
piano. No final de sua vida segue um novo caminho, afastando-se do
impressionismo, como se vê em Jeux. Morre em 1918, durante um bombardeio
sobre Paris, oito meses antes da vitória francesa.

Modernismo


EUROPA
Dodecafonismo ? As primeiras experiências dodecafônicas realizadas por
Arnold Shoemberg, na década de 20, são suas Cinco peças para piano, op.
23, e Suíte para piano, op. 25. Nessas peças Shoemberg elabora um
sistema de composição em que dispõe, segundo suas necessidades
composicionais, as 12 notas em uma determinada ordem (a série
dodecafônica), que deve ser respeitada ao longo da peça. Isso garante a
unidade dos elementos utilizados dentro da composição atonal.
Serialismo ? A prática dodecafônica, assumida por dois de seus alunos,
Anton von Webern (1883-1945) e Alban Berg (1885-1935), assume diversas
faces. O romantismo atonal de Berg em suas óperas Wozzek e Lulu, e o
pontilhismo de Webern ? inexistência de melodia, com sons pontilhados no
silêncio ? são considerados marcos na música do século XX. No
pontilhismo, Webern isola cada uma das notas da série dodecafônica,
evitando assim qualquer relação harmônica entre elas. Outra importante
contribuição de Webern, que também tem a influência forte de Schoemberg,
é a expansão da idéia de melodia de timbres: uma melodia pode ser criada
não apenas mudando-se as notas, mas também mudando-se os timbres. Nesse
sentido ele reinstrumenta uma obra de Johann Sebastian Bach (o cânon a
seis vozes da Oferenda musical), na qual a melodia de Bach alcança os
mais diversos instrumentos da orquestra. A textura pontilhista e a
melodia de timbres tornam-se um fascínio entre os compositores mais
jovens, que então expandem a idéia de série para os ritmos, para os
timbres, para as intensidades, desenvolvendo o serialismo integral.
Arnold Schoemberg (1874-1951) nasce em Viena, onde passa grande parte da
sua vida até instalar-se em Berlim. Autodidata, acumula grande erudição
musical. É convocado para o serviço militar durante a 1a Guerra e reduz
sua atividade como compositor. A escada de Jacob, iniciada em 1917, só é
finalizada em 1922. Nessa fase elabora o método de composição
dodecafônica. Em 1933, muda-se para Boston e, em seguida, para Los
Angeles, nos Estados Unidos, fugindo das perseguições do nazismo. Além
de grande compositor, destaca-se como professor e como teórico.
Neoclassicismo ? Em sentido oposto à trajetória progressista de
Shoemberg, o compositor Igor Stravinski busca os ritmos marcados e
repetitivos das músicas rituais populares. Suas primeiras obras de
impacto são os balés O pássaro de fogo, de 1910, Petrouchka, de 1911, e
A sagração da primavera, de 1913. Assim como as obras de Debussy, têm
forte influência sobre as escolas nacionais que perduram nessa época. De
caráter marcante, Stravinski e sua música traçam os rumos da música
atonal não-dodecafônica, fundando, em 1918, o neoclassicismo na música.
Utiliza melodias extraídas do passado medieval e renascentista, de
cantos populares e do jazz americano, que se misturam a um atonalismo
repleto de dissonâncias. São dessa época A história de um soldado (1918)
e As bodas (1923). Seguem esse caminho, entre outros, Paul Hindmith
(1895-1963) e diversos compositores franceses.
Igor Stravinski (1882-1971) nasce em Oranienbaum, perto de São
Petersburgo, na Rússia. Embora seu pai fosse músico, foi educado para
seguir a advocacia, mantendo paralelamente seus estudos musicais. Aos 20
anos, passa a ter aulas com Rimski-Korsakov. O sucesso vem cedo na vida
de Stravinski. Em 1910, Sergei Diaguilev, empresário do Balé Russo,
encomenda o primeiro de uma série de balés, Pássaro de fogo. De 1920 a
1939, vive na França. Durante a 2a Guerra muda-se para os Estados Unidos
e se torna cidadão americano em 1945. Entre seus discípulos americanos,
destaca-se o compositor e regente Robert Craft.
AMÉRICA
Mesmo distante do centro das revoluções musicais do século,
desenvolve-se na América uma nova música que tem como referência a obra
inovadora de Claude Debussy. Os principais representantes desse
movimento são os compositores norte-americano Charles Edward Ives
(1874-1955) e brasileiro Heitor Villa-Lobos (1887-1959), que servem de
modelos composicionais no continente, até o pós-guerra. Ambos encontram
na harmonia atonal livre novas formas musicais para exprimir suas idéias.
Estados Unidos ? De modo bastante radical e pioneiro, Charles Ives faz
uso de intervalos microtonais menores do que o meio-tom entre as notas
de uma escala cromática e também dos clusters, cachos de notas que
tendem ao ruído, tocados com as palmas das mãos, ou mesmo com o
antebraço, sobre as teclas do piano. Sua obra exerce influência direta
sobre Henry Cowell, definindo uma nova vertente para a música
norte-americana.
Brasil ? Villa-Lobos utiliza combinações instrumentais inusitadas, como
em seu Choro no 7, onde o clarinete deve ser tocado como se fosse um
trompete, sem a boquilha, ou ainda em sua Suíte Sugestina, de 1929, onde
três metrônomos ? instrumento mecânico utilizado para marcar o andamento
musical ? são usados como instrumentos de percussão. Bastante admirado
por compositores europeus, especialmente pelos franceses Darius Milhaud
(1892-1974), Olivier Messiaen (1908-1992) e Edgard Varese (1885-1965),
permanece como um dos marcos da música brasileira.

Música contemporânea


Serialismo integral ? Decorre diretamente do serialismo de Webern, da
música de Olivier Messiaen (1908-1992) e do italiano Luigi Dallapicolla
(1904-1975). Consiste em um sistema em que são acrescentadas à série de
alturas uma série de durações, uma série de intensidades e uma série de
timbres. A idéia do serialismo serve também para a organização de séries
de 23 notas (incluídos os microtons), ou séries de sons sem alturas
definidas, como é feito na música eletrônica e na música para percussão.
O desenvolvimento do serialismo integral se deve aos compositores Karel
Goeyvaerts (1823-1993), Pierre Boulez (1925), Karlheinz Stockhausen
(1928) e Henry Pousseur (1929), dentre outros que, na década de 50,
fundam os festivais de verão de Darmstadt, Alemanha.
Pierre Boulez (1925-) nasce em Montbrisson, França. Estuda composição em
Paris, com Olivier Messiaen e René Leibowitz, entre 1946 e 1956. Lidera
o movimento da música de vanguarda francesa. Funda, em 1975, o Instituto
de Pesquisas Científicas e Musicais (IRCAM), responsável pelo
desenvolvimento de tecnologias musicais, que aglutina hoje os principais
pesquisadores em música eletrônica. Entre suas peças destaca-se o
Marteaux sans maitre (O martelo sem mestre).
Música concreta e música eletrônica ? Surgem no início da década de 50,
entre compositores franceses e alemães que atuam junto a emissoras de
rádio. O grupo francês é liderado por Pierre Schaeffer (1920-1984),
ligado ao rádio e televisão francesa (ORTF), e se dedica à música
concreta. Realiza composições a partir de fitas de sons cotidianos
pré-gravadas, recortadas e remontadas diversas vezes até atingir o
efeito desejado. A música eletrônica surge junto ao estúdio da rádio de
Colônia, na Alemanha, criada por um grupo liderado por Herbert Eimert,
onde atuam Stokhausen, Luciano Berio (1926), Gyorgy Ligeti (1923) e
compositores do grupo de Darmstadt. O objetivo é realizar a síntese do
som a partir dos recursos eletrônicos de uma emissora de rádio, dentro
dos procedimentos do serialismo.
Karlheinz Stockhausen (1928-) nasce em Colônia, na Alemanha, e inicia
sua formação musical em 1947. Realiza, em 1951, seu Primeiro estudo
eletrônico, no estúdio da rádio de Colônia. Entre 1952 e 1953, estuda no
Conservatório de Paris, com Olivier Messiaen e Pierre Schaeffer.
Atravessa diversas fases: serialismo integral, música eletrônica, música
aleatória e, por fim, a música de natureza mística, que vem pautando sua
produção desde a década de 70. Destacam-se obras recentes: Os sete dias
de semana, Stimmung e Mantra, baseadas na filosofia hindu.
Música aleatória? Surge nos Estados Unidos e na Europa como a música
feita pelo acaso. Tem antecedentes em uma peça de Mozart (século XVIII),
que abre espaço para que o intérprete escolha ao acaso a seqüência das
notas e ritmo e, mais recentemente, no jazz americano, também fruto da
improvisação. O aleatório é levado ao extremo pelo americano John Cage
(1912-1993) e pelos compositores da escola de Darmstadt, como
Stockhausen, Luciano Berio e Boulez. Cage propõe que se combinem
aleatoriamente gravações recolhidas na rua ou no rádio, em sua peça
Fontana mix. Em Imaginary landscape, dispõe cada um dos elementos da
composição (o tempo, as durações, os sons, as intensidades) em cartelas
que deverão ser recombinadas pelo intérprete de acordo com o conjunto de
linhas lido em hexagramas sorteados no I Ching, o livro da mutações.
Stockhausen, em Klavierstuk IX (Peça para piano IX) e Stimmung para oito
cantores dispõe em suas partituras passagens que o intérprete reordena
segundo sua vontade. Em Musik fur eine haus (Música para uma casa) o
público passeia por diversas salas de uma casa onde, em cada sala, se
desenvolve uma música.
Teatro musical ? É herdeiro da ópera e da música de cabaré do
entreguerras e se expressa na música de Kurt Weill. Entre os
compositores de teatro musical, destacam-se o argentino radicado na
Alemanha Maurício Kagel (1931) e Hans Werner Henze (1926). Suas obras
refletem engajamento político, tecendo críticas aos valores burgueses.
Outros compositores, como John Cage, seu aluno La Monte Young (1935) e
integrantes do grupo de Darmstadt realizam alguns trabalhos com
características do teatro musical.


Ecletismo ? Conquistas da música do século XX, como o serialismo, a
música eletrônica, a aleatória, o teatro musical e o concretismo, se
desgastam, levando compositores europeus a incorporar elementos de
culturas não-ocidentais como a hindu, a chinesa ou a africana. Entre
eles Stokhausen, Ligeti, e o italiano Luciano Berio, que incorpora à sua
técnica composicional elementos da música polifônica dos povos da África
Central, como em sua composição Coro. Entre os compositores que se
voltam à música tonal e modal estão os minimalistas americanos Phillip
Glass (1937), Terry Riley (1935), Steve Reich (1936). Suas músicas não
se destinam exclusivamente às salas de concerto, mas estão presentes no
cinema, como as trilhas de Koyanisqaatsi e Mishima, de Phillip Glass .
Luciano Berio(1925-) inicia sua carreira ao lado de K. Stokhausen,
Boulez e Bruno Maderna. Em 1953 funda, em Milão, o Estúdio de Fonologia.
Muda-se para os Estados Unidos, em 1967, de onde é extraditado sob
acusação de atividade antiamericana. Em Paris, dirige o centro de
eletroacústica do Instituto de Pesquisas Científicas e Musicais (IRCAM),
de 1974 a 1980. Suas obras mais conhecidas são: a Sinfonia, uma grande
colagem de diversos materiais sonoros, em homenagem ao líder negro
Martin Luther King, e as Folk songs, canções populares com arranjos
vanguardistas da música de concerto.
NOVA GERAÇÃO
Atualmente uma série de novos movimentos convivem com práticas
remanescentes da música do pós-guerra. Destacam-se:
Nova simplicidade ? Defendida pelo alemão Wolfgang Rihm (1952), visa uma
estética da liberdade da arte, propondo uma música com ausência de
dificuldades, livrando-se da carga histórica.
Nova complexidade ? Resgata a importância estrutural do serialismo
integral, em uma música que expressa a complexidade e multiplicidade do
homem atual. O principal compositor dessa corrente é o inglês Brian
Ferneyhough (1943).
Música espectral ? Tem seu centro na França, liderada por Tristan Murail
(1947), Michael Levinas (1949) e Gerard Grisey (1946). A música surge a
partir do estudo de espectros sonoros de instrumentos e sons cotidianos
com auxílio de recursos da eletrônica e informática.
Multi-music ? É o caminho seguido nos Estados Unidos por Meredith Monk e
Joan La Barbara, que trabalham misturando recursos audiovisuais como
vídeo, teatro, dança etc.
Música e política ? Tendo por base o envolvimento do compositor com
diversas causas sociais, compositores de variadas tendências têm se
dedicado a uma música engajada, como o alemão Helmut Lachenman (1935) e
o brasileiro Willy Correa de Oliveira (1938).
Computer-music ? Utiliza recursos da informática na síntese sonora, nos
cálculos de estruturas musicais e nas transformações de informação
numérica em informação sonora, além de simulações diversas.

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